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Marca de água – Um elemento de Segurança ímpar que resiste ao passar do tempo - Resenha Histórica
A marca de água ou filigrana, como por vezes também é designada, é um dos mais antigos elementos de segurança vastamente utilizados na segurança de documentos públicos e privados em todo o mundo.
Quanto à designação, convém esclarecer que apesar de encontrarmos as duas designações, marca de água e filigrana, estas não são na realidade sinónimas. O termo filigrana, correntemente usado no mundo da indústria do papel, corresponde à figura ou figuras formadas por finos fios metálicos que são bordados ou aplicados por soldadura no rolo filigranador ou rolo cilíndrico com tela, da máquina que utiliza o processo de produção de papel conhecido por cylinder mould, ou no chamado dandy roll da máquina que utiliza o processo conhecido por Fourdrinier. Durante o processo de fabrico do papel em qualquer um destes dois tipos de máquina, nos espaços ocupados por essa filigrana verifica-se uma menor acumulação de fibras, o que leva à formação de áreas de maior transparência no papel, visíveis em contraluz ou com recurso a luz transmitida. Ou seja, a filigrana que se encontra no rolo da máquina dá origem à marca de água que se forma no papel, daí se poder dizer que na realidade não são sinónimos, mas antes que uma dá origem à outra.
Resenha Histórica
A sua primeira utilização conhecida remonta ao ano de 1282, tendo surgido em Fabriano na Itália, onde surgiu uma das mais antigas fábricas de papel na Europa, a Fábrica de papel Fabriano que remonta a 1264. Esta fábrica de papel mudou a sua designação para Cartiere Miliani Fabriano, com a industrialização da fábrica levada a cabo por Giuseppe Miliani, neto do fundador da Cartiere Miliani em 1782, Pietro Miliani. Após alguns períodos conturbados da sua existência, finalmente a Cartiere Miliani Fabriano foi comprada pelo grupo Fedrigoni, uma empresa muito conhecida no campo da produção de papeis especiais. Esta fábrica de papel continua atualmente a ser uma das referências mundiais na produção de papel, especialmente papel de segurança, sendo um dos produtores do papel para impressão das notas de euro, com tecnologia e características avançadas anti contrafação.
Desde a sua primeira utilização em 1282, em Fabriano, que os fabricantes de papel tornaram a incorporação da marca de água uma marca “pessoal” do papel por eles produzido, individualizando assim o seu papel e, percebendo mais tarde que se protegiam igualmente contra a sua contrafação. A partir do século XIV, tornam-se mais personalizadas, normalmente através de referências ao local do moinho produtor do papel e às iniciais ou mesmo o nome do seu fabricante. De salientar que esta “personalização” do papel fabricado, através de uma marca de água própria, constituí para além da imagem do fabricante, uma garantia da qualidade do seu produto, tendo com isso desencadeado quase em simultâneo o aparecimento da falsificação da marca de água através da cópia do seu motivo principal.
O aumento da procura de papel com o advento da impressa no séc. XV leva a que haja necessidade de ter papeis de impressão e escrita de grande lisura e estabilidade em termos de gramagem, daí o facto de deixarem de ostentar a marca de água, tendo esta ficado reservada para papeis especiais e que necessitem de garantia de originalidade, ou seja, fica reservada como elemento de garantia de segurança da sua origem. A marca de água passa então a ter um conjunto de elementos informativos da sua origem, como a identificação do lugar de produção, o nome do fabricante e a partir de finais do séc. XVII, início do séc. XVIII, o ano de fabrico.
Em meados do séc. XVIII é confirmado o uso da contramarca com a denominação da qualidade do papel e o local do seu fabrico, para papeis de qualidade regulamentada. Esta contramarca, contudo, já é referenciada em 1582 em França, com uma ordenação de Henrique III em que este impunha aos papeleiros o uso da contramarca, no outro lado da folha de papel em simetria com a filigrana principal, com as suas iniciais ou nomes completos.
Então o que é a contramarca? A contramarca não deixa de ser igualmente uma marca de água, constituindo-se como uma informação complementar à marca de água principal, figurando, em regra, do outro lado da folha em simetria com a marca de água. Constituindo uma confirmação da identidade dos fabricantes, a contramarca surge em regra representada apenas com letras isoladas ou formando monogramas ou simples siglas. Por exemplo em Portugal as contramarcas mais conhecidas eram um “A” da fábrica de papel dos Azevedos e um “P” e um “C” da fábrica de Porto de Cavaleiros. Estas contramarcas eram também geralmente colocadas nos cantos das folhas de papel produzidas, muitas vezes nos quatro cantos, para que independentemente do corte a sua presença fosse sempre visível.
Em Portugal, apesar da utilização do papel como suporte documental substituto do pergaminho remontar ao séc. XIII, somente no séc. XV a arte de fazer papel se torna conhecida dos portugueses e que a primeira marca de água considerada até agora como a primeira genuinamente portuguesa surja apenas no séc. XVI, numa obra impressa em Coimbra, sendo o seu motivo uma esfera armilar. Outra marca de água que surge pela mesma altura, com provável proveniência portuguesa é o escudo de armas, mas somente no séc. XVIII é que em Portugal se generalizou a produção de papel com marca de água, sendo muito conhecidas as marcas de água que identificavam as fábricas de papel da região de tomar, como a fábrica do Prado ou a Porto de cavaleiros. Contudo nos séc. XVII e XVIII e até mesmo no séc. XIX a produção nacional de papel de qualidade não era suficiente para as necessidades do reino e do seu vasto império, sendo por isso comum encontrarmos papel produzido especificamente para o mercado português com a marca de água representando as armas do reino de Portugal, mas com contramarcas de proveniência italiana ou francesa.
Quer saber mais? Veja a continuação do artigo aqui: Marca de água – Um elemento de Segurança ímpar que resiste ao passar do tempo - Na atualidade
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