REFLETINDO SOBRE AS ELEIÇÕES: A FORMAÇÃO COMO FERRAMENTA DE LITERACIA POLÍTICA

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Refletindo sobre as eleições: A Formação Como Ferramentas de Literacia Política

No próximo dia 30 de janeiro, após um cenário de crise política com o fim da tão famigerada “Gerigonça”, haverá eleições legislativas em Portugal e mais uma vez é previsível que se descubra que o nível de abstenção suba para níveis estratosféricos, tão certo como a Terra ser plana (perdão aos terraplanistas…). Mais uma vez, haverá letras garrafais de jornais a anunciar o apocalipse do desinteresse cívico generalizado; mais uma vez, soltam-se opinion makers que traçam um cenário de iminente risco e caos sobre o futuro da nação, e mais uma vez temos a geração Boomer a culpar a geração Millennium que culpará a geração Y que culpará as anteriores pelo desapego das camadas mais jovens pela desconfiança na tomada de liderança dos destinos de país, entre acusações de precariedade, desleixo e corrupção. Factos são factos: não há pior cenário para a democracia do que a abstenção, e isto é particularmente grave para os/as jovens que, entre uma multiplicidade retórica de significados ambíguos que lhe são imputados – heróis/vilões, fortes/fracos, ativos/passivos –, trazem em si a imputável herança pesada da continuidade. Seguramente, que existem alguns motivos de preocupação quando se verifica um nível de desinteresse político tão alto, que fique bem claro; mas é preciso uma visão e um entendimento mais lato que desafie o senso comum na leitura da realidade: o facto de os/as jovens não irem votar em massa significa mesmo que eles/as não estão interessados/as na política ou no futuro do país?

1. A política não é apenas eleições e votos

 

Sabemos que “política” vem do grego “pólis” referindo-se às cidades-estado da Grécia Antiga, passando a designar, com o tempo, os modos de como certos grupos sociais, geriam as suas comunidades, sociedades, estados, nações, países, enfim, o mundo (e.g., política internacional). Nesses termos, política vincula-se, de forma unilateral – embora nunca se limitando –, à noção de governo. E existem certamente várias formas de governo, mas convencionalizou-se que a democracia é – parafraseando Winston Churchilla pior forma de governo, à exceção de todas as demais. Ora, nas democracias liberais, o voto tem sido a representação mais inequívoca da participação política e da integração cívica de um individuo (tão forte que mereceu a reivindicação de muitos grupos sociais como um direito ao longo do século XX, como as mulheres), mas a verdade é que ele não é o único.  O advento das redes sociais, por exemplo, veio a demonstrar que existem espaços alternativos de expressão política com os/as jovens a manifestarem opiniões, quer nos seus murais e caixas de comentários de facebook, quer através de memes no Instagram ou até mesmo através de vídeos no TikTok sobre diversos assuntos (os partidos, os impostos, o clima, a crise dos refugiados, a União Europeia, o desemprego).

Antes da internet, já a arte de intervenção desempenhava – e continua a desempenhar – essa função de expressar política envolvendo o cinema ou o teatro, com as suas cenas de crítica e sátira humorística, sem esquecer a arte urbana como os grafittis. Para muitos/as jovens, uma mudança de hábitos, mudanças corporais (e.g., uma tatuagem), uma determinada escolha de consumo, é sim um ato político assim como ouvir determinada música, ou simplesmente… usar um batom. Como uma possível resolução para o problema da abstenção, a escola vem assumindo um lugar central e hoje, a relativa polémica em torno da Educação para a Cidadania nas escolas é demonstrativa de como se procura através das políticas públicas consciencializar os/as jovens para se educarem politicamente. Não é incomum os/as jovens reconhecerem que a escola deveria ser mais do que um espaço para aprender as disciplinas tradicionais de Português e Matemática, e ser um espaço para compreender melhor os assuntos do quotidiano de que ouvem falar na televisão e nas redes sociais, para abordar tópicos mais sensíveis que querem debater nos espaços educativos formais, para aprender as regras básicas de convivência, determinados valores fundamentais ou simplesmente para aprender a fazer um curriculum vitae ou a preencher uma folha de IRS.

Em suma, aprender e expressar política, seja qual for o quadrante ou preferência ideológica ou partidária, acontece também de outras formas que não apenas a partir do voto. A política é um processo de aprendizagem que se faz de forma informal através das vivências na família, na escola, em diferentes tipos de instituições e organizações (desportivas, religiosas, cívicas), dos média ‘tradicionais’ aos meios digitais, nos livros e até nos jogos de computador. Argumento aqui que procurar a formação é também uma forma de fazer política.

 

 

 

2. A formação como ferramenta de literacia política

 

Nas interseções entre política e formação é preciso considerar que a formação é, antes de mais, uma forma de exercício politico a dois principais níveis: o primeiro diz respeito à obtenção de conhecimentos e competências. Esse ato, mais de uma necessidade de treinar pessoas a profissões, é também uma forma de comprometimento com a vida e com a evolução da sociedade para a qual o conhecimento é a base. Procurar aprender e educar-se é sempre um ato que contribui para o bem-comum e por consequente para a evolução da sociedade como um todo. Um outro nível tem que ver com a formação propriamente dita, i.e., com formações cujos temas centrais situam-se em torno da intervenção na sociedade em diversos contextos como uma das expressões politicas mais visíveis. Aqui podemos mencionar várias formações que o Instituto CRIAP disponibiliza, com especial destaque para três:

 

 

 

  • Especialização Avançada em Intervenção Psicológica nas Políticas Sociais

 

A formação de Intervenção Psicológica nas Políticas Sociais tem como objetivo geral dotar os/as formandos de conhecimentos relativos à promoção de politicas públicas em educação para a saúde, nomeadamente comportamentos saudáveis, ambientes saudáveis e políticas amigáveis. É por excelência uma especialização que emerge precisamente dessa noção política de estar em comunidade e traz ainda um tema mais do que atual na era pós-covid: a saúde.

 

 

 

  • Especialização Avançada em Intervenção do Serviço Social em Diversos Contextos

 

Falar em política significa falar em pessoas e o serviço social é um ex libris do fazer politica para, mas, sobretudo, com a comunidade. Entende-se o Serviço Social como como forma de ultrapassar e minimizar alguns dos riscos, nomeadamente o reforço dos direitos sociais e de cidadania dos cidadãos em situação de fragilidade e risco social.

 

 

 

  • Curso Avançado em Práticas de Intervenção no Tráfico de Seres Humanos

 

Abordando um tema e problemática bastante atual, o curso Avançado em Práticas de Intervenção no Tráfico de Seres Humanos tem como objetivo geral qualificar profissionais da área da Justiça, em temas associados à promoção da igualdade de género, prevenção e combate às discriminações em razão do sexo, orientação sexual e identidade de género, à prevenção e combate à violência doméstica e de género, à prevenção e combate ao tráfico de seres humanos. É, pois, um curso que traz um tema particularmente denso e que está no centro das políticas internacionais.

 

Todas estas formações ilustram muito bem como fazer política não se prende apenas com o mero ato de votar ou de se organizar eleições, mas engloba todo um conjunto de conhecimentos e ferramentas para a intervenção e a mudança social. Nesse aspeto, o Instituto CRIAP está linha da frente na promoção da participação cívica e politica de indivíduos e grupos para o seu empoderamento pessoal e profissional, oferecendo uma panóplia constante e consistente de formações que visam estimular a consciência política. O mesmo é dizer que seja qual for o/a seu/sua candidato no próximo domingo, no que respeita a escolha democrática e consciente, o CRIAP merecerá sempre o nosso voto. Contamos consigo!

 

 

 

  • Pretende aprofundar mais sobre questões de Intervenção Política?

 

Inscreva-se nas formações Especialização Avançada em Intervenção Psicológica nas Políticas Sociais, Especialização Avançada em Intervenção do Serviço Social em Diversos Contextos e Curso Avançado em Práticas de Intervenção no Tráfico de Seres Humanos e conheça todas as particularidades destes temas.

 

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da autoria de:
Hugo Santos

Hugo Santos é Licenciado, Mestre e Doutor em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCE-UP), onde se envolveu em diversos projetos de investigação e intervenção cívica e social (e.g., IP-CHALID/Turquia, IP-H.E.L.P./Eslováquia e IP-ERASMUS/Hungria). Com a sua tese de Doutoramento sobre diversidade sexual em contexto escolar, na linha da investigação educacional sobre juventudes, cidadania e participação, ganhou o Prémio SPCE/De Facto Editores 2018 da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, uma das mais altas distinções nacionais na área das Ciências da Educação. Com experiência recente em projetos sobre jogos sérios (e.g., JoSeES), tem adquirido um crescente interesse pela área das novas tecnologias educacionais, gamificação e da formação à distância. Com o CCP, atualmente exerce a atividade de Técnico de Formação no Departamento de Ensino à Distância (EaD) do Instituto CRIAP, construindo assim um percurso sólido na área da Educação e Formação.