Intervenção Parental na Gaguez

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Intervenção Parental na Gaguez

Estima-se que aproximadamente 1% da população mundial seja afetado pela gaguez, uma perturbação da fluência da fala que em Portugal incide sobre aproximadamente 100 mil pessoas.

Embora amplamente estudada, a gaguez continua a ser compreendida como uma condição complexa e multifatorial influenciada por fatores genéticos, neurofisiológicos e constitucionais. Estudos prévios indicam que a gaguez está frequentemente associada a reações negativas, dificuldades na comunicação no quotidiano e impacto negativo na qualidade de vida geral. Existe também um consenso na comunidade científica relativamente ao papel significativo desempenhado pelo ambiente no desenvolvimento da gaguez ao longo da vida. Assim sendo, é indiscutivelmente crucial incluir os pais nas abordagens terapêuticas direcionadas às crianças.

 

 

Como intervir na gaguez?

 

Considerando a influência negativa que a gaguez poderá ter na qualidade de vida da pessoa que gagueja, a intervenção precoce desempenha um papel fundamental na minimização desse impacto. Quanto mais cedo, melhor! Este lema, apesar de já ser utilizado na saúde por um tempo considerável permanece altamente relevante nos dias atuais.

 

Recentemente tenho iniciado as minhas aulas e formações salientando o que evitar durante a intervenção. Infelizmente ainda são realizadas práticas que não têm por base qualquer evidência científica e que, em algumas situações até podem acentuar ainda mais determinadas problemáticas. Um exemplo clássico é a aplicação de técnicas de respiração. Não minimizo a importância dos exercícios de respiratórios, como por exemplo para potenciar uma boa saúde mental. No entanto, aplicação de técnicas de respiração para aumento de fluência, não são aconselháveis na gaguez. Uma das razões é o foco intenso em “não gaguejar”. Tanto da minha experiência, quanto do relato das inúmeras pessoas que já acompanhei fica claro que quanto mais nos concentramos em não gaguejar, mais a gaguez tende a manifestar-se com mais intensidade. Na realidade é o momento da disfluencia em si que provoca a alteração da respiração e não o inverso: a pessoa não gagueja porque tem alterações na respiração. Portanto, tentar “regular” a respiração não é certamente uma abordagem eficaz.

 

Então o que fazer?

 

Existem diferentes abordagens que são utilizadas na intervenção com crianças que gaguejam, sendo que a maioria enfatiza a importância do envolvimento parental. 

 

 

Porquê os pais?

 

Num padrão terapêutico convencional, é comum que as crianças participem em sessões semanais de terapia, totalizando aproximadamente quatro horas por mês. No entanto, quando avaliamos a restrição de tempo no contexto de vida infantil, deparamo-nos com uma oportunidade valiosa ao envolver os pais no processo terapêutico. Se os pais conseguirem dedicar um tempo diário (que não precisa de ser mais de 5 minutos) para explorar novas abordagens em relação à gaguez, experimentando novas formas de agir e comunicar durante a interação, a intervenção pode ganhar notável eficácia.

 

A gaguez pode ser emocionalmente desafiadora para a criança. Pais que compreendem e apoiam ativamente seus filhos fornecem uma rede de segurança de extrema importância.

 

Atualmente, é difícil para mim imaginar a minha prática profissional sem a colaboração ativa dos pais e sinceramente, parece-me incoerente considerar uma abordagem terapêutica para gaguez infantil que não envolva os pais, cuidadores, ou pessoas próximas e significativas na vida da criança.

 

 

 

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Artigo da autoria de:
Mónica Rocha

Terapeuta da Fala. Doutorada em Ciências da Cognição e da Linguagem. Mestre em Neurociências Cognitivas e Neuropsicologia; Vencedora da 1ª Bolsa de Investigação em Linguagem SPTF-Pharmis. Especialização Clínica em Perturbações da Fluência pelo European Clinical Specialization Fluency Disorders (ECSF) – Lessius University College, na Bélgica. Certificada pelo Hanen Program no Programa “It Takes two to talk”: Programa de Intervenção Precoce dirigida aos pais das crianças com dificuldades de comunicação (Hanen Centre Canadá). Certificada pela Life Training em parentalidade consciente. Exerce funções de Terapeuta da Fala na clínica San Saúde Integrativa onde trabalha exclusivamente nas perturbações da fluência (gaguez e taquifemia). Coordenadora do departamento de Fluência da Comissão de Boas Práticas da Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala. Orientadora clínica de estágios curriculares em Terapia da Fala. Colabora em projetos de investigação com a Universidade do Algarve.