Processamento auditivo central

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Processamento auditivo central

A avaliação do processamento auditivo central requer uma abordagem multidisciplinar, tendo em conta que a perturbação do processamento auditivo pode vir em comorbilidade com outras perturbações.

A audição é uma função sensorial importante para o desenvolvimento da linguagem e esta revela uma influência fundamental na comunicação oral e escrita (Terto, S. & Lemos, 2011). Ouvir vai além da simples deteção do sinal acústico, pois envolve circuitos de funcionamento neurais e sistemas cognitivos cruciais para descodificar, perceber, discriminar e analisar o som. A função auditiva tem um importante papel na análise e diferenciação do estímulo auditivo sejam eles não-verbais ou verbais de alta complexidade (Amaral, M. & Colella-Santos, 2010).

 

A capacidade de uma pessoa de identificar e processar informações auditivas, têm um contributo importante, uma vez que os processos auditivos, cognitivos e de linguagem encontram-se diretamente ligados ao processamento de fala, muitas vezes, em simultâneo. Assim, não nos basta apenas ouvir, (ouvir significa que os ouvidos se encontram em bom funcionamento), é também necessário que se processe a informação auditiva no cérebro, e que esta seja associada a conceitos e pensamentos de forma correta.

 

Portanto, um sistema auditivo íntegro garante que as competências ligadas à comunicação humana evoluam de modo a satisfazer as necessidades de interação nos contextos, visto que, tanto em crianças como em adultos, a linguagem tem papel essencial para a comunicação (Vygotsky, 1989).

 

Importa então dizer que, quando há um funcionamento inadequado na função auditiva Central (PAC), podemos estar perante dificuldades em localizar, analisar e discriminar o som, que se caracteriza por um desfasamento nas competências auditivas a que damos o nome de perturbação do processamento auditivo central (PPAC).

 

 

Identificar para atuar no momento oportuno

 

 

Indivíduos com a perturbação do processamento auditivo podem ter incertezas no que respeita às informações auditivas e em ambientes acusticamente desfavoráveis, há um agravamento considerável na percepção da fala o que pode levar a falhas na compreensão de fala e no desenvolvimento da linguagem e académico (Jerger & Musiek, 2000).

 

E como podemos identificar as manifestações comportamentais da perturbação do processamento auditivo central?

A presença de características como:

 

  • ser facilmente distraído;
  • respostas inadequadas;
  • dificuldade em perceber a fala em ambientes ruidosos;
  • dificuldades em seguir instruções predominantemente auditivas;
  • dificuldades com as rimas ou músicas infantis;
  • dificuldades no desenvolvimento da leitura e da escrita;
  • pedidos frequentes da repetição (o quê?);
  • dificuldades para perceber sarcasmo e piadas,

 

podem-nos dar indicação para procurar uma avaliação multidisciplinar do processamento auditivo.

 

 

Diagnóstico e Intervenção - Abordagem Multidisciplinar

 

 

A avaliação do processamento auditivo central requer uma abordagem multidisciplinar, tendo em conta que a perturbação do processamento auditivo pode vir em comorbilidade com outras perturbações e, portanto, para que se possa proceder com uma intervenção assertiva, será necessário realizar um diagnóstico diferencial (BSA, 2011).

 

O diagnóstico da perturbação do processamento auditivo é uma etapa fundamental na avaliação audiológica, sobretudo, em indivíduos com dificuldades na análise da informação auditiva que pode indicar lapsos no funcionamento do sistema nervoso central. A avaliação servirá de suporte ao audiologista na apreciação das competências auditivas que o indivíduo é capaz ou não de efetuar (Nunes, C. in Monteiro, L. & Subtil, 2016).

 

Programas de estimulação auditiva têm sido utilizados para desenvolver as competências do processamento auditivo, favorecendo o desenvolvimento e fortalecimento das competências auditivas, o que tende a colaborar para a otimização da linguagem oral e escrita (BSA, 2011). Os programas de intervenção devem conter atividades estruturadas, sistemáticas e frequentes considerando a(s) queixa(s) apresentada(s), o histórico do caso e os resultados da avaliação multidisciplinar, por forma a trazer aumento para as competências percetivas auditivas, bem como, dirimir as queixas sentidas na linguagem e na comunicação.

 

As abordagens de intervenção devem:

  • basear-se nas melhores evidências científicas disponíveis;
  • estar voltadas para dirimir os défices;
  • maximizar a generalização; e
  • ocorrer em vários contextos, conforme apropriado – em casa, na sala de aula, no local de trabalho e na comunidade, tanto quanto possível, através de uma perspetiva bottom up e top down (ASHA, 2005).

 

O impacto da perturbação do processamento auditivo na vida de uma pessoa pode prejudicar o seu bom funcionamento nos contextos onde está inserida. Ao perceber e/ou ampliar o nosso conhecimento sobre o processamento auditivo central é nos permitido oferecer a estas pessoas recursos que lhes permitem conhecer e desenvolver estratégias para lidar com estas dificuldades, bem como, a oportunidade de serem vistas na sua totalidade, o que seguramente as levarás a ter boas interações e um bom desenvolvimento social, pessoal e académico.

 

 

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Artigo da autoria de:
Roberta Neves

Licenciada em Fonoaudiologia pela Universidade Veiga de Almeida (Brasil); Pós-graduada em Psicopedagogia pela UERJ - Rio de Janeiro, Doutoranda em Estudos da Criança na especialidade de Saúde Infantil, pela Universidade do Minho. Investigadora integrada no Centro de Investigação em Estudos da Criança - CIEC. Trabalhou como docente ministrando a Unidade Curricular Perturbações auditivas centrais na Universidade do Algarve. Cocriadora do projeto Ciclo de Conferências: Perturbações auditivas – O conhecimento como caminho para a prevenção, uma parceria entre a Universidade do Minho e a Universidade do Algarve. Trabalhou como coordenadora científica e docente na Formação Processamento auditivo, comunicação e aprendizagem. Autora de artigo científico com a temática do processamento auditivo. Realizou comunicação em Congresso na área do processamento auditivo. Possui uma vasta experiência na área da Terapia da Fala, com ênfase na clínica atuando principalmente nas seguintes áreas: intervenção no défice do processamento auditivo; intervenção nas competências auditivas para o desenvolvimento da fala, linguagem, da leitura e escrita